domingo, 23 de julho de 2017

ANDADOR: MOCINHO OU VILÃO?

O uso do andador nos últimos anos se tornou um assunto muito polêmico. Podem ser coloridos, ter acessórios chamativos, botõezinhos e rodinhas, que deixam as crianças praticamente de pé. Muitos pais defendem seu uso, geralmente baseando-se nas experiências vividas anteriormente com seus filhos pequenos, que utilizaram e não tiveram nenhum problema. Em contrapartida, temos aqueles que são contra a sua utilização, por apresentar muitos riscos às crianças, tornando-o perigoso.

Mas afinal, o que é melhor: usar ou não usar?
No Canadá é proibido vender, importar e fazer propaganda de andador para bebês. Estudos britânicos mostram que é o equipamento infantil que mais provoca acidentes e lesões, principalmente devido à velocidade que os bebês podem atingir e aos riscos de queda. No Brasil, ainda há uma luta por leis que tornem seu uso proibido, ficando a critério dos pais a sua utilização; mas os pediatras contraindicam seu uso.

Muitos pais afirmam que dá mais segurança às crianças, evitando quedas, mais independência devido ao aumento da movimentação do bebê e promove o desenvolvimento físico.

Embora sejam argumentos de pessoas que experimentaram o andador, não existe nenhum estudo que comprove essas afirmações; pelo contrário, o que temos são informações que comprovam os riscos.

Estudos apontam que a idéia de que o andador é seguro está errada. O andador é causa de muitas emergências pediátricas. Quando o bebê sofre um acidente com andador, em geral, a primeira parte do corpo a ser atingida é a cabeça, podendo haver traumatismos cranianos de diversas proporções, desde leves, sem consequências, até bem mais graves e, em casos extremos, fatais. Outros acidentes envolvem fraturas, queimaduras (pela proximidade com tomadas e panelas), intoxicações e afogamentos,sendo  os casos mais graves  ligados às quedas.

Por ano, são realizados cerca de dez atendimentos na emergência para cada mil crianças com menos de um ano de vida, vitimas de acidentes com o andador, o que corresponde a pelo menos um caso a cada duas ou três crianças que usam o aparelho.

A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), afirma que o problema está em dar independência demais em uma fase onde a criança ainda não tem noção do perigo a que se expõe. O equipamento dá a falsa impressão de segurança, e assim, os adultos tendem a deixar a criança mais tempo sozinha enquanto fazem outras tarefas (cozinham, passam roupa, assistem televisão, entre outros). Lembrando que mesmo com supervisão de um adulto, o risco de acidentes e traumatismo permanece alto.

Ainda segundo a SBP, o andador atrasa levemente o desenvolvimento psicomotor da criança. Os bebês levam mais tempo para ficar em pé e caminhar sem apoio, engatinham menos, e tem a parte de exercícios físicos prejudicada uma vez que confere mais mobilidade e velocidade, a criança precisa de menos energia com ele do que se estivesse por conta própria tentando alcançar o que deseja.

O andador força a criança a pular várias etapas essenciais para o desenvolvimento. Por exemplo, não deixa a criança experimentar os tombos naturais do início do aprendizado, limitando seu equilíbrio e podendo deformar a estrutura óssea da perna, que ocorre principalmente se o bebê ainda for pequeno para o andador, pois usará apenas as pontas dos pés para se movimentar.

Bebês que usam o andador, tornam-se mais inseguros para andar sem qualquer apoio, demorando mais tempo para andar sozinhos.

Nos Estados Unidos e na Europa há um movimento intenso para que legislações como as canadenses sejam aprovadas e colocadas em prática. No Brasil estamos caminhando lentamente quanto a isso, a venda já foi proibida e posteriormente liberada e, por esse motivo, contamos com o bom senso dos pais, a fim de não exporem seus bebês a um produto perigoso e desnecessário.

Autora: Cristina Volcov - Enfermeira Obstetra

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